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Mitos e verdades sobre o câncer de próstata

No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele. Além disso, é considerado uma doença da terceira idade, onde cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos, segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer). 

Em uma pesquisa realizada pelo sistema hospitalar Orlando Health, apontou as principais razões pelas quais o público masculino evita procurar ajuda médica. Cerca de 22% dos entrevistados, dizem que estão muito ocupados, 21% alega que tem medo de descobrir uma possível doença, e 18% não vão ao médico por acharem os exames constrangedores.

Por diversos motivos, os homens não frequentam consultórios regularmente e acabam não descobrindo problemas que poderiam ser tratados se houvesse o diagnóstico precoce. O exame de toque retal é indolor e pode durar de 1 a 2 minutos, sendo completamente necessário para detectar câncer ou alteração na próstata. 

O problema é que há muitas dúvidas e mitos referente ao câncer de próstata, seu diagnóstico e tratamento. Por isso, muitos homens procuram ajuda médica apenas quando a doença já se encontra em um estágio avançado, sendo que a pessoa coloca sua própria vida em risco ao não tomar medidas preventivas. 

Para desmistificar a doença, Bernardo Coimba e o Doutor Luiz Eduardo Ximenes, urologista do Clude, falam sobre o câncer de próstata, desvendando os mitos e verdades que dificultam também a conscientização masculina. 

Mito ou verdade: o câncer de próstata não apresenta sintomas na fase inicial. 

Dr. Luis Eduardo: – Vamos falar que é um mito e uma verdade. Às vezes, a doença pode apresentar um sintoma não comum, bem leve ou um sintoma que leve o paciente a procurar o médico, mas normalmente ele não dá sintoma. […] Ele é um câncer muito silencioso. Os sintomas mais comuns podem vir com uma dificuldade de urinar leve, sangramento na urina ou durante a ejaculação. Mas o normal é não dar nenhum tipo de sintoma e descobrir durante esses exames anuais. 

Mito ou verdade: o toque retal é essencial para o diagnóstico. Ele é o único jeito?

Dr. Luis Eduardo: – É verdade. O toque retal possibilita identificarmos alguma suspeita de câncer de próstata e não vamos diagnosticá-lo pelo toque. Então, o toque suspeito, como chamamos, por consequência, vai ser investigado e a partir dessa investigação, faremos uma biópsia e exame de imagem, como a ressonância. 

Mito ou verdade: já existe algum exame que elimina a necessidade do toque retal.

Dr. Luis Eduardo: – Vou falar que é mito. O toque auxilia muito, mas existem exames que podem sugerir a presença de câncer sem o exame físico, que seria a ressonância multiparamétrica da próstata. Mas esse exame é extremamente caro e o toque pode auxiliar isso antes que tenha esse tipo de custo na saúde. 

Mito ou verdade: o PSA aumentado é sinal de câncer de próstata.

Dr. Luis Eduardo: – Esse é um mito. A próstata e o PSA estão ligados intimamente. A única glândula do corpo que produz o PSA é a próstata. Então, por exemplo, uma próstata de 100g, 120g e 200g, uma próstata de quase 200g é quase 10 vezes o peso dela normal e o PSA vai ser muito maior, então aumenta proporcionalmente. Agora uma próstata de 20g ter um PSA igual a uma próstata de 200g, por exemplo, é bem suspeito e merece mais investigação. 

Mito ou verdade: andar de moto, bicicleta ou atividade sexual devem ser evitados antes do PSA. 

Dr. Luis Eduardo: – Isso é verdade. O estímulo da próstata, a ejaculação, a proximidade do períneo com o selim da bicicleta, do banco da moto, estimula a próstata e acaba aumentando o PSA. Por isso, tem que fazer um período, de pelo menos, 3 a 4 dias de resguardo para fazer o PSA, porque não vai causar confusão na hora do exame. 

Bernardo:  – Então esse tipo de estímulo pode ocasionar um falso positivo?

Dr. Luis Eduardo: – Isso pode subir o PSA e você fica preocupado. Além disso, inflamações da próstata podem fazer subir o PSA. Ela é bem sensível, então às vezes, quando dá um PSA muito fora do normal, comparado com o ano anterior, costumamos repetir o exame para confirmar, porque às vezes pode até ser um processo inflamatório ou não respeitou o período de resguardo para o exame. 

Mito ou verdade: todos os casos de câncer de próstata precisam de tratamento.

Dr. Luis Eduardo: – Isso é um mito. Hoje temos a possibilidade de fazer o rastreamento e ir vigiando. Quando tem o diagnóstico de câncer de próstata leve, você tem uma idade em que a sua expectativa de vida é menor do que a chance do câncer causar algum mal. Você pode fazer o acompanhamento do câncer com exames de imagem, biópsias e controles do PSA. Caso o PSA, o toque retal ou o exame de imagem mude, deve ser conversado com o paciente se ele vai querer ter algum tipo de intervenção ou esperar novamente. Quando é indicado algum tipo de tratamento, pode ser cirúrgico ou através de radioterapia, que são as duas modalidades mais intervencionistas. 

Bernardo:  – Quimioterapia também se encaixa ou não é aplicado ao câncer de próstata?

Dr. Luis Eduardo: – A quimio é quando já se tem um câncer onde já foi feito cirurgia, radioterapia e ele não respondeu a esses dois tratamentos. Ou quando o paciente está com a doença muito avançada que não compensa fazer outra modalidade de tratamento, e além disso, fazemos o bloqueio hormonal, porque a próstata é muito influenciada pela testosterona. O câncer de próstata também faz o bloqueio da testosterona para segurar a doença e evitar que ela progrida, e chamamos isso de castração química. 

Mito ou verdade: fazer vasectomia aumenta o risco de câncer?

Dr. Luis Eduardo: – Isso é mito. Saiu um trabalho falando sobre isso, mas se você for pegar as nuances desse trabalho, você vê que a população em que foi feito esse trabalho tem um viés que é cultural fazer vasectomia. Então, se você pegar uma população em que todo mundo faz vasectomia e vai atrás de câncer próstata, e um ou outro não faz vasectomia, e esse paciente não tem câncer, vai falar assim: “aquele grupo lá que não fez vasectomia não teve câncer de próstata”, mas é bem aleatória. Essa associação foi vista num trabalho mas é muito questionável. 

Bernardo:  – Houve então um problema de amostragem neste trabalho?

Dr. Luis Eduardo: – Às vezes é a amostragem. Você vai atrás de um ponto. Acho que fizeram um questionário, tinha essa pergunta, viram que tinha isso dentro do escopo e quiseram publicar, mas, assim, a relação depois tem que separar os grupos e mostrar. Acompanhar por vários anos, quem fez e quem não fez vasectomia. Isso foi achado em um trabalho que não era para isso. 

Mito ou verdade: a próstata aumentada é sinônimo de câncer. 

Dr. Luis Eduardo: – Esse é um mito. A próstata aumentada é um processo natural. Algumas pessoas vão ter esse crescimento da próstata que vai causar sintomas urinários, mas também isso não significa que quem tem aumento da próstata, benigno, não vai ter câncer. Pode ter câncer do mesmo jeito. Quando a próstata cresce, ela cresce na zona central e o câncer é na parte periférica da próstata. Então são dois lugares diferentes, dois tipos de situações diferentes. 

Bernardo:  – Entendi. Isso é uma coisa interessante. Quando cresce do jeito que se desenvolve o câncer é sempre certeza que é câncer e não tem relação com outra inflamação passada. 

Dr. Luis Eduardo: – Por exemplo: uma próstata de 15g pode ter câncer, agora uma próstata de 300g pode ser que não tenha. Não é assim: “a próstata cresce e uma célula muda e começou a virar câncer”. Porque o crescimento da próstata é de outra área da próstata, não é na área que cresce o tumor. O que pode acontecer é da pessoa ter uma próstata grande, ter um tumor de próstata e ele avança para essa área, e o paciente que não tinha um PSA alto, acabou fazendo outro tratamento e fez a raspagem da próstata e veio tumor nessa raspagem, aí sim é um caso acidental, mas o normal é não ter relação. 

Mito ou verdade: o tratamento do câncer de próstata sempre causa impotência sexual.

Dr. Luis Eduardo: – Não necessariamente, é mito. Há a possibilidade de, durante a cirurgia, causar impotência sexual, disfunção erétil. Na maioria das vezes, os pacientes que já possuem uma disfunção erétil, na maioria das vezes, os pacientes que já tem disfunção e acaba progredindo, mesmo por conta da cirurgia, mesmo com a preservação do feixe que leva os nervos e os vasos para o pênis. Às vezes até o tipo de tumor, a gente tem que ser mais agressivo, então tem que tirar mais tecido e provavelmente vai provocar a disfunção erétil. A radioterapia também tem a possibilidade de causar a disfunção mas é um pouco menor, e quando chega a questão do bloqueio hormonal, aí sim irá causar a disfunção erétil, principalmente porque vai bloquear a testosterona que é um dos fatores que auxiliam na ereção. 

Mito ou verdade: se eu não tenho sintomas, eu não tenho a doença.

Dr. Luis Eduardo: – Isso é um mito. O perigo do câncer de próstata é esse. Ele não dá aquele sintoma imediato e suspeito e isso demanda essas idas ao urologista quando você tem indicação dentro da faixa etária, que é de 45 anos. Se o paciente tem familiares com histórico de câncer de próstata ou 50 anos de idade quando não há ninguém da família relacionado, então é importante você ir ao urologista para não ter problema de pegar essa doença mais avançada. Então é um mito. Tem que ir ao urologista e seguir a doença, fazer o rastreio. 

Mito ou verdade: é muito diferente a perspectiva de vida de uma pessoa que tem câncer de próstata hoje do que uma pessoa tinha há 20 anos atrás.

Dr. Luis Eduardo: – Com certeza! Antigamente o exame que tinha era o PSA e quando a pessoa conseguia fazer o exame, fazia. Também fazia a biópsia da próstata nos casos em que se tinha suspeita e talvez depois de muito tempo, ou seja, já pegava casos bastante avançados. O normal, antigamente, era você pegar esses casos muito grandes. Então com o advento do PSA isso foi melhorando e possibilitando o diagnóstico mais precoce. E é importante falar que na época até na hora em que você ia operar você fazia a biópsia dos linfonodos, que são os primeiros linfonodos onde a doença vai. Os linfonodos são gânglios da defesa do corpo, e se ele fosse positivo, a cirurgia parava. Parava e o paciente ia fazer o tratamento, não tirava a próstata e não fazia nada. Hoje em dia nem é cogitado isso! Hoje tira-se todos os gânglios, linfonodos e a próstata. Daí faz até uma dissecção mais extensa para evitar a doença, por isso, a taxa de cura aumentou também. A radioterapia é cada vez mais precisa, dá menos sintomas e é mais objetiva, além da quimioterapia e bloqueio hormonal. Então hoje em dia você ter uma complicação, uma questão de câncer de próstata, é só se você negligenciar demais. O leque de tratamento que temos e a tecnologia é muito difícil você descobrir a doença e ela progredir de um jeito ruim, sendo uma doença menos agressiva. Lógico que se for uma doença mais agressiva, pode ter alguns tratamentos que não funcionem, mas não como era antigamente. Conseguimos que você viva com a doença e não morra dela, e esse é um tipo de câncer que hoje é controlável e favorável para o paciente. É muito difícil a doença ir para um lado ruim.

Atenção: As informações existentes no Blog do Clude pretende apoiar e informar, não substituindo a consulta médica. Procure sempre uma avaliação pessoal. 

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